Apresentação

Pra quem acredita que a lua-de-mel não acaba quando voltamos da viagem...

domingo, 20 de dezembro de 2020

Chiara: aquela que ilumina

 Já faz mais de um ano que não escrevo por aqui. Muitas pessoas me pedem pra voltar com o blog e eu prometi que tentaria fazer posts com mais frequência. Percebe-se que falhei completamente nessa tarefa.

Hoje quero contar um pouco sobre a minha 2ª gestação.





Como vocês já sabem, eu tenho um filho que nasceu em 2017 (você pode ler mais sobre isso aqui). Em 2019 eu tive um aborto espontâneo (e você pode ler mais sobre isso aqui). Ainda em 2019 eu engravidei novamente. Descobri no dia 18 de outubro de 2019.

É engraçado como as coisas mudam depois de algumas experiências. Aquele ditado antigo diz que "o primeiro filho é de vidro, o segundo é de borracha e o terceiro é de ferro" deve ter alguma veracidade.

Quando descobri a 1ª gestação, peguei um body (que já estava guardado há mais de um ano), coloquei em uma caixa de presente junto com o teste de gravidez e um cartão que dizia "Papai, aqui dentro batem 2 corações por você" (ou algo do tipo, que já não me lembro bem). Lembro de ter feito o teste de gravidez no 1º dia de atraso.

Na minha 2ª gestação (a do aborto), mandei fazer uma camiseta pro Giovanni, com vários escritos sobre irmão mais velho. Chegamos em casa e surpreendemos o papai com a camiseta. Fiz o teste após 2 dias de atraso.

Na 3ª gestação, fiz o teste após 5 dias de atraso, sem saber se queria mesmo um positivo ou não. Com medo de perder um bebê novamente. Quando vi as duas listras não sabia nem o que pensar. Era uma sexta-feira. Fellipe chegou do trabalho, preparamos o lanche, fizemos o culto de pôr-do-sol. Na hora de dar banho no Giovanni, eu disse pro Fellipe: Ah, queria te falar uma coisa... tô grávida de novo.

Acho que a cabeça dele "bugou". Sem surpresas, sem cartões, do nada... ele sorriu, me abraçou e disse: Mas você tá feliz?

Eu respondi: Acho que sim, mas não quero me animar... vai que eu perco de novo.

Ainda bem que a gestação foi tranquila, sem intercorrências. A Chiara foi meu bebê arco-íris, aquele que vem depois de uma tempestade. Essa nomenclatura carinhosa é dada aos bebês que nascem após uma perda gestacional ou neonatal. Simbolizando que existe beleza e esperança depois da tempestade e, pra mim, também simboliza que Deus não se esqueceu de nós, firmou uma aliança e não permitirá que tudo seja destruído novamente em outra tempestade. Ela foi meu arco-íris. No meu coração eu tinha certeza que era uma menina. Assim como eu tinha certeza, na 1ª gestação, de que era um menino. Acertei. O nome já tínhamos: Chiara -  aquela que ilumina. 

Eu não sabia, mas ela era tudo o que eu precisava pra aguentar o ano de 2020.  Nossa menina maravilhosa. Mas isso é assunto pra outro post.

A gente não contava que na metade da gestação viria uma pandemia. Que eu não teria foto com meus pais segurando minha barriga, que teria que fazer o enxoval online e que o chá de bebe seria uma CHARREATA, graças às minhas amigas maravilhosas que organizaram tudo com minha mãe.

Falei pro Meu Bem que não podemos ter mais filhos. No 1º foi desemprego, no 2º foi um aborto, no 3º uma pandemia. Se eu engravidar de novo pode ter outro dilúvio na Terra, ou a 3ª guerra mundial, ou algo do tipo.

Esse post certamente não foi tão emotivo quanto o post sobre minhas outras gestações. Mas eu creio que foi pra isso que a Chiara veio também, pra me fazer mais forte, pra me fazer enxergar as coisas com outros olhos, pra trazer calmaria e paz pro meu coração. Se vocês soubessem o poder que o sorriso dela tem sobre o meu dia, entenderiam que ela é realmente como o nome diz, aquela que ilumina.

Mais um capítulo para nossa vida. Éramos um, nos casamos e nos tornamos dois. Hoje somos quatro. Ela era o pedaço que faltava para completar nossa família. 

Ao longo do caminho vamos adicionando bagagem na nossa viagem rumo às bodas de ouro. Algumas bagagens são pesadas e difíceis de carregar. Outras são leves e a gente se orgulha de segurar. Sabe quando a gente passa na frente daquela loja de malas de viagem e vê aquela mala elegante, com rodinhas que giram em 360º e acha que essa mala é o que faltava na sua viagem? A gente arruma essa mala com gosto, dobra cada peça de roupa e dentro dela fica tudo organizado. A gente pega essa mala e desfila no aeroporto, com óculos de sol se achando a blogueira e faz até pose de aerolook com a mala nova. Assim foi a Chiara na nossa vida. Ela foi a bagagem que eu sonhei, que tenho orgulho em carregar, que orna com todo o resto da viagem, que torna a viagem mais bonita. É a bagagem que nos faz querer deixar tudo organizado aqui dentro. Nada fora do lugar. Se a viagem fica turbulenta, eu olho pra ela e penso: vai valer a pena. E junto com Meu Bem, adicionamos mais uma bagagem na nossa vida. Provavelmente uma das mais leves, uma das que traz mais paz. Aquela que ilumina. 


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Amigo-secreto

Todo fim de ano é  a mesma coisa: decidir onde passaremos Natal e ano novo. Afinal, somos duas famílias  que se juntaram e formaram uma nova família. Mas, com carinho e paciência, sempre conseguimos decidir.

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Em 2018 passamos a véspera de Natal com meus sogros e o dia de Natal com meus pais. Fizemos um amigo secreto e eu - marmelada ou não - tirei o nome do Fellipe. Eu adorei, é claro. Até porque,  no ano anterior,  ele havia tirado meu nome (eu disse, marmelada).

Um dos motivos que eu gostei de pegar o nome dele é porque dar um presente para ele não é uma tarefa fácil, portanto, prefiro que seja atribuída à mim do que a qualquer outra pessoa.
O Meu Bem é uma pessoa indecisa, nunca sabe dar uma sugestão de presente. Se tiver limite de valor, piorou. Quando ele decide o presente  ainda corre o risco de ser difícil de encontrar.

Nesse ano ele optou por uma camiseta lisa, de qualquer cor. Ele sabia que eu tinha tirado o nome dele, afinal, aqui em casa são 3 presentes para dar, sendo que a pessoa que recebe o presente do nenê sempre fica mais feliz, então nós temos o costume de decidir qual dos 3 nomes vai ser o amigo do Giovanni e, depois disso, decidimos o nosso.

Sabendo disso, fui comprar os presentes. Eu sabia exatamente a loja que teria a modelagem e o tamanho que o Meu Bem gosta. Tinha 3 opções de cores. Uma eu comprei para nós compormos os looks  coordenados de família -hahaha- e fiquei em dúvida com as outras cores. Liguei pra ele:

-Meu Bem, você quer a camiseta cinza ou a preta?
-Como é esse cinza?
-Tem cinza chumbo e cinza mescla.
-Qual a diferença entre essas cores?
-Claro ou escuro.
-Hum... Não sei. (Eu disse que ele é muito indeciso).
-Preta ou cinza?
-Cinza. Preta. Não, preta eu tenho uma polo... sei lá... vai a cinza.

A cinza é que foi.
Mas ele não estava satisfeito. Comentou várias vezes que não tinha certeza.
Voltei à loja pra comprar a preta. Não tinha mais no tamanho dele.
Voltei mais 3 vezes antes do Natal. Não chegou reposição. Ia ser a cinza mesmo.
Eu já estava de saco cheio do presente e ainda nem tinha acontecido a revelação. Decidi que queria surpreendeê-lo. Eu nunca consigo, ele sempre descobre.
Lembrei que ele estava sem perfume. Todos acabaram. Então fui atrás de um perfume para ele.

Pensei mil vezes na fatura do cartão com aquele gasto.
Mas pensei mil vezes mais na cara de surpresa dele ao abrir o presente e encontrar mais que aquela camiseta cinza que a gente tinha criado "ranço".
Comprei. Escondi por um tempo. Coloquei na embalagem de presente. Por 5 dias antes do Natal. Ele não desconfiou.

Fizemos uma mala de viagem e perguntei se ele já havia guardado o perfume.
-Meu perfume acabou, lembra?
-Ah é, tinha esquecido. (Não tinha não- haha).

Chegou o dia do amigo secreto e, quando todos perceberam que ele sabia que eu tinha tirado o nome dele, eu disse, triunfante:
-O que ele não sabe é que não comprei o que ele pediu!!!

A feição no rosto dele foi inesquecível e, ao abrir o presente, ele me abraçou e disse "Eu estava mesmo precisando".
Eu sabia. Sabia que ele precisava. Sabia que era caro. Sabia que ele não esperava. Sabia que eu não esqueceria da primeira surpresa que deu certo.

Não é porque sou uma esposa incrível, porque não sou. Não é pelo presente. Não  é pelo valor.
É pelo imenso prazer de vê-lo sorrir por ter recebido mais do que esperava.

Isso vale pro amigo secreto, pro aniversário, pro dia dos namorados. Pro perfume, pro presente, mas principalmente, para os pequenos detalhes repletos de carinho que, quando maiores do que esperamos, nos arrancam sorrisos e suspiros por uma vida inteira.

(escrito em 04/01/2019)

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Vazio

Nosso filho Giovanni não foi planejado. Veja bem, isso não significa que ele não foi desejado, e muito menos amado. Eu o amava antes de ele existir e sonhava com o dia que o teria em meus braços. Só aconteceu de ele vir no momento que nós achávamos que não era o melhor.
Eu escrevi sobre isso em outros textos. E somos muito gratos por Deus ter nos dado o Giovanni.

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Ao longo do seu crescimento fomos conhecendo sua personalidade. E que calor no coração ao descobrirmos como ele é carinhoso. Ele ama abraços, beijos, carinho e bebês. Isso mesmo, toda vez que vê um bebê ele quer fazer carinho e é como se sorrisse com os olhos ao passar a mão no pezinho de um bebê.

Nosso filho é puro amor.

Como ele é a única criança da família, decidimos que ele precisava de um companheiro pra vida. E eu engravidei novamente.

Aqueles 2 riscos de positivo me encheram de emoção. Dessa vez nós planejamos, estávamos num bom momento, trocamos de carro por um maior... era o melhor momento na nossa cabeça.
Giovanni ganhou camisetas escrito "irmão mais velho" e já apontava pra minha barriga dizendo "bebê".

Durou pouco. Apenas 7 semanas. Foi quando veio o sangramento e confirmamos que o fato de ainda não termos conseguido ouvir o coração era porque aquela gravidez não continuaria. Foi interrompida. Pelo meu próprio corpo.

Meus sonhos foram interrompidos naquele momento também. As camisetas de irmão mais velho foram colocadas numa gaveta que nunca abrimos, juntamente com os presentes que as pessoas já tinham nos dado pro novo bebê.

Eu já não era mais mãe de dois. Para quem me visse, tudo estava igual.
Mas no meu coração existia um vazio enorme, maior que o vazio que agora tinha em meu útero. O lugar que eu separei pro meu bebê que não nasceu ainda estava lá. E ainda que eu tenha outros bebês um dia, aquele espaço vai ser eternamente do bebê que eu planejei.

A dor da perda, física e emocional, era tão grande que o engasgo está na minha garganta ainda três meses depois. O sorriso do Meu Bem quando recebeu a notícia também está só na memória. Giovanni ainda não entende o que aconteceu. Mas não tão cedo veremos seus olhos brilharem pelo bebê que ele tanto queria.

Muitas pessoas, COM A MAIOR BOA VONTADE DO MUNDO (que fique claro que não é por maldade), tentaram me consolar dizendo:
"Ainda bem que foi agora no começo"
"Mas pelo menos não chegou a nascer"
"Você ainda pode engravidar de novo"
"Pelo menos você já tem um filho"

E por aí vai...

Não me leve a mal, mas essas frases não consolam mãe nenhuma.
Perder um filho (adulto, adolescente, criança, bebê, recém-nascido, no meio da gestação ou ainda sem nunca ter ouvido seu coração), e junto com esse filho perder sonhos, expectativas e planos que foram criados, é devastador para qualquer família. 

Todas as mulheres com quem conversei, e que perderam algum bebê um dia, me disseram a mesma fala: ERA MEU BEBÊ. Não importa se era no início da gravidez, não importa se quase ninguém sabia, não importa se um dia eu poderia ter outro... aquele que se foi era o MEU BEBÊ. E isso dói.

Eu não entrei em trabalho de parto na gestação do Giovanni, então quando eu sofri o aborto não sabia comparar se aquela dor física era igual ou não. Mas amigas e conhecidas que passaram pelas 2 experiências me confirmaram o que eu já esperava. Dói tanto quanto, mas o aborto acaba antes. E isso ainda nem é consolo, porque durante um trabalho de parto você pode ficar 24h com dor, mas no final tudo será esquecido quando ouvir o choro do seu bebê.  Num aborto, o único choro que vem depois de toda aquela dor é o seu próprio choro.

Eu pensei muito antes de escrever esse texto. Pensei muito mais antes de postá-lo. Editei o mesmo umas 3 ou 4 vezes. Mas quando descobri que dia 15 de outubro é o dia da Conscientização da Perda Gestacional e Neonatal (no mesmo dia que completa 3 meses que perdi o meu bebê), eu decidi que deveria postar. Porque as pessoas precisam saber que dói. Que dói muito. Fisicamente é terrível, mas emocionalmente te destrói, porque uma perda dessas leva seu filho e te deixa com um vazio. As pessoas precisam saber que é difícil falar sobre isso. Que quase ninguém quer te ouvir. Porque pra quem nunca perdeu um bebê, parece loucura ou bobagem sofrer tanto por alguém que nem nasceu.

Mas você que perdeu um bebê, saiba que você não está sozinha. E isso não é o fim. É difícil, mas a vida continua. E deixo aqui meu abraço pra você. 

O que isso faz com um casamento?
Destrói os fracos. Edifica os fortes.
Só um casamento fortalecido é capaz de passar pela perda de um filho (de qualquer idade) e sair ileso, e ainda mais forte.

Nesse dia, eu e o meu bem éramos tudo o que tínhamos. Porque o nosso bebê era um sonho nosso. E agora não tinha mais sonho.

Hoje voltamos a sonhar. Mas porque nunca soltamos a mão um do outro.
Somos nós dois, até o fim da vida. Na alegria ou na tristeza. Ganhando ou perdendo. Sonhando ou reconstruindo sonhos. Até que a morte nos separe.

Nossa bagagem para as bodas de ouro está ficando pesada, mas a gente reveza. Cada um carrega numa parte do caminho, tentando suavizar as dores. Chegaremos lá. Com cicatrizes do caminho. Do caminho, nunca de nós dois.

(Escrito em 07/10/2019)

(Se você quiser saber como consolar uma pessoa nessa situação eu aconselho que telefone ou mande uma mensagem fazendo uma oração por ela. Se você tiver muita intimidade com essa pessoa, você pode se prontificar a fazer alguns pratos de comida e deixar na casa dela, para ela não precisar se preocupar em cozinhar enquanto está ali, perdendo sangue e fraca. Se você for mais do que íntimo, pode se oferecer para guardar os itens do bebê que se foi em sua casa e, quando ela estiver emocionalmente fortalecida, devolver a ela ou ajudar a doar esses itens, dependendo do que a família decidir.)

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Misericórdia

Meu pai está internado há mais de uma semana. Complicações de um problema que ele tem no fígado.
Ontem fui visitá-lo e fiquei um tempão vendo vídeos no YouTube com ele. Mostrei-lhe algumas músicas que gosto e fui traduzindo enquanto ouvíamos.

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Quando lhe mostrei a música "Mary, did you know?", ele ficou claramente emocionado, com lágrimas nos olhos e me disse uma frase que eu nunca vou esquecer.
"Filha, é impossível não se emocionar com a história de Jesus, não é?".

Ah, pai.. se você soubesse o eco que essa frase gritou dentro do meu coração...
Claro que é impossível não se emocionar com a história do Criador, Salvador e Redentor desse mundo! A história dele se confunde com a nossa. Só existimos e temos vida, e nossa história só continua porque um dia Ele escreveu a história Dele nesse mundo. E Ele só precisou escrever a história Dele por aqui por causa da nossa história de pecado.
Como não se emocionar com a história de quem amou incondicionalmente a ponto de dar a própria vida por que jamais mereceu?

Não consegui não pensar em como a bíblia fala sobre casamento. Pede que as mulheres sejam submissas aos seus maridos (EM AMOR) e, em contrapartida,  pede que os maridos amem suas esposas COMO CRISTO NOS AMOU.

Sabe todas as vezes que você errou e pediu perdão a Deus? Ele te perdoou. Não porque você merece. Você não merece. Você não é justo o suficiente pra isso. Ele te perdoou por causa da grande misericórdia Dele.

O que te faz pensar que seu cônjuge não merece seu perdão quando ele erra? O que te faz pensar que você pode julgar mais do que o próprio Deus e escolher não perdoar os erros do seu companheiro?

Muitos casamentos acabam pela falta de perdão. Mas nós temos o maior exemplo de todos. Aquele que perdoa de bom grado, não porque merecemos, mas porque Ele é misericordioso.

Para pensar: tem você amado seu cônjuge como Cristo nos amou?


(Escrito em 07/10/2019)

terça-feira, 24 de abril de 2018

Não existe alma gêmea

Já faz um bom tempo que eu não escrevo aqui. Hoje vou deixar um texto que não é de minha autoria. Quem o fez foi Marcos Piangers, que é bem conhecido na internet. Eu amo todos os textos dele, principalmente sobre paternidade. Mas, nesse blog, eu não poderia deixar de fora esse texto lindo sobre almas gêmeas. Recebi de uma amiga e vi que esse texto tem circulado na internet. E essa é uma das maior E verdades que já li sobre relacionamentos.


"Não existe alma gêmea

Eu sei que você quer que exista. Ficaria muito mais bonito eu fazer um texto bonito aqui, dizendo que existe alma gêmea, que em algum lugar a pessoa certa está te esperando. Uma pessoa que seja amor à primeira vista e que seja o preenchimento de todo o vazio emocional que você sempre sentiu. Uma pessoa que te complete e que faça isso de forma natural, não forçada, meio mágica. Essa pessoa não existe.

Vou dizer o que existe. Existe você bem e feliz e tão radiante que todo mundo acha você interessante. Existe um ou outro hormônio, uma ou outra substância que funciona como mensageiro fisiológico, existe coincidência de encontros, cheiros e conversas que te deixam ainda mais feliz e confiante. Mas não existe alma gêmea.

Porque nossa alma gêmea um dia acorda com cabelo desarrumado e um bafo terrível. Você descobre que a sua alma gêmea odeia sua série favorita, não gosta de viajar e tem nojo de sushi. E como pode ser sua alma gêmea se não gosta de voz e violão em bar? E você começa a pensar que talvez aquela ali não seja sua alma gêmea. Meu deus, minha alma gêmea está em algum lugar e eu aqui, com esse entulho!

Mas não existe. As almas se tornam gêmeas. Elas não nascem assim. Você vai abrindo mão de umas coisas e a alma da outra pessoa abre mão de outras. Um aprende a comer comida japonesa, outro começa a simpatizar com música ao vivo. Um começa a acordar cedo pra tomar café da manhã junto, outro aguenta até meia-noite pra assistir filme abraçado. Um vai lendo os mesmos livros do outro. Um vai concordando com aquilo que você disse outro dia sobre aquela coisa que eu discordei na época. Um vai ficando meio parecido com o outro. Um vai pegando coisa do outro, outro vai pegando coisa do um. Tem vezes que dói um pouquinho, mas as almas vão ficando parecidas.

Vão ficando tão parecidas. Tão parecidinhas. Que coisa. Parece até que são gêmeas."

sábado, 7 de abril de 2018

Amor! Cadê Minha Aliança?

Passei praticamente esse último janeiro longe da Dona Moça. Fui dar uma estudada três estados ao sul enquanto minha amada esposa permaneceu em casa. Como o curso foi bem intenso, não tinha muito tempo pra eu lembrar que estava sozinho durante a semana. Aulas durante 9 horas por dia, estudar por conta e mais o cotidiano necessário da sobrevivência com dignidade não deixavam muito tempo livre. Aos sábados, tem o culto pela manhã e sempre alguma família de irmãos da igreja me convidava pra almoçar e passar a tarde. E então chegava o domingo.

Domingo era um dia que não passava. Tinha o que fazer. Muita coisa pra estudar, pra ler, pra escrever... Mas o cérebro tem um limite de tempo para trabalho intelectual ininterrupto (a paciência também). Até as coisas que eu fazia pra distrair a cabeça eventualmente me deixavam entediado rapidamente. Depois disso, a solidão martelava na minha cabeça. Falávamos por telefone todos os dias, mas nunca é a mesma coisa que ao vivo. Ainda bem que até os domingos passaram. Até que, numa fatídica segunda feira...

Antes de continuar com essa história, preciso abrir parênteses nisso aqui.

(

Eu tenho um maldito hábito de sempre ter que tirar a aliança quando vou molhar as mãos. Vou lavar a louça: tiro a aliança. Tomar banho: sem aliança. Colocar roupa de molho, lavar as mãos, passar gel no cabelo... Tudo que me faça secar as mão depois me faz tirar a aliança. Até enquanto estou dando aula eu a tiro e coloco no polegar, porque o anelar está muito suado. E eu sei que esse hábito dos infernos vai me fazer perdê-la qualquer dia, pois eu nunca lembro onde eu coloquei. É esse hábito que justifica o título desse texto, pois a Dona Moça sempre sabe onde estão minhas coisas. Pronto, posso fechar parênteses agora.

)

Acordei na segunda feira um pouco mais cedo do que acordaria se fosse direto pro curso. Fazia isso todos os dias, pois prefiro acordar mais cedo pra estudar do que ir dormir mais tarde fazendo isso. Enquanto estudava, percebi que estava sem aliança. "Bom, normal... Tomei banho antes de dormir e não coloquei de volta.", pensei na hora. Depois de estudar, ia pegar na prateleira acima da pia do banheiro, onde tinha deixado todos os dias da viagem. Todos os dias, menos esse.

Cheguei no banheiro e quando olhei pra prateleira acima da pia surgiu uma frente fria no meu estômago que se espalhou pelo corpo todo. E agora, pra quem eu ia perguntar "cadê minha aliança?". Eu estava lá, a mais de mil quilômetros da pessoa que sempre sabe onde eu coloco as minhas coisas e o desespero começou a bater. Procurei nos lugares normais e nada. Procurei nos lugares anormais e nada. Procurei nos corredores do hotel, na garagem e em lugares que eu nunca tinha ido (o desespero faz isso com a gente), e nada. Chegou uma hora que eu precisava me arrumar pra ir pro curso então forcei uma falsa calma e fui tomar banho. Fui pegando as roupas, a toalha e então, pendurada no gancho do banheiro, encontro a dita cuja. Me senti a homem da dracma perdida (referência de crente). Um alívio indescritível quase me fez sair do chão. Com a aliança no dedo, segui o meu dia.

Você, incauto leitor, pode estar pensando "Nossa, mas a Dona Moça deve ser muuuuito ciumenta pra te deixar desesperado assim!". Já lhe digo então que esse, nem de longe, foi o motivo do meu nervosismo. Em reflexão posterior ao fato comecei a tentar entender o porquê de ter sentido-me assim e concluí que eu não queria chatear alguém que amo tanto. Somando isso à solidão dominical, não me surpreende todo esse nervosismo.

Se eu não achasse a aliança, eu pensei que a Dona Moça ia ficar chateada por eu não dar a devida importância a um objeto que simboliza o que sentimos um pelo outro. Com a mente mais clara, eu sei que ela não pensaria assim e ficaria chateada ao meu lado e não por minha causa.



Apesar de essa história ter um final feliz, ela me pôs a pensar. Será que eu sempre tenho tanto receio em chatear a Dona Moça? Será que eu sempre considero os sentimentos dela nas coisas que faço, nas palavras que digo ou nas decisões que eu tomo? Parando para pensar nisso, percebi que não. Eu não tomo esse cuidado todo. Aliás, eu tomo mais cuidado em não chatear as pessoas que nem são próximas a mim e isso é muito sem sentido. Em conjecturas, concluí que faço isso pois tenho a certeza do perdão da Dona Moça. Mas qual é o sentido em depender da certeza do perdão no lugar de buscar a constância do entendimento?

Depois essa epifania que tive, refleti e cheguei a algumas conclusões:

1) Eu tenho um monte de defeitos.
2) Eu sei usar muito bem as palavras e sempre parecer convincente.
3) Quando estou irritado falo coisas que não realmente penso só para machucar a pessoa com a qual discuto.

Essas três conclusões, juntas, são uma bomba. Além de falar com o intuito de ferir, eu sou bem convincente quando faço isso. Esse defeito, na minha opinião, é o meu pior. Ao entender isso, o intervalo entre o que penso e o que falo aumentou consideravelmente, tentando sanar essa característica tão infincada na minha personalidade.

Quantas vezes, por falta de reflexão e auto-conhecimento, não somos o melhor que poderíamos ser para a pessoa que amamos? Quantas vezes, por impulso e raiva, falamos o que não queremos só pra "provar" que estamos certos? Eu quero ser sempre uma pessoa melhor pra Dona Moça e eu vejo o esforço constante dela no mesmo intuito. 

E você? O quão melhor seria o seu relacionamento se você refletisse e buscasse melhorar os seus defeitos? O quão melhor seria se você não dependesse constantemente do perdão da pessoa amada?  O perdão deve ser condição de existência de um casamento, isso é fato! Eu só não creio que a certeza do perdão deva substituir a constante busca de ser melhor para quem se ama.

Espero que isso tenha feito algum sentido e que minha experiência seja útil para alguém.

1 Amplexo.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O Demônio da Garagem

Uns tempos atrás estava entrando em casa e a Dona Moça vira pra mim e começa o seguinte diálogo:
- Você viu o demônio aqui atrás?
- Não... Não vi não. Quer que eu mate?
- Não, pode deixar que eu dou conta aqui,
Depois disso ela pegou a vassoura e matou uma aranha do tamanho da palma da minha mão. Foi tanta pancada que acho que até hoje deve ter alguma pata impressa no piso da garagem. 

Acho um tanto engraçado em perceber como nós, com menos de 2 anos de casamento, já formamos alguns verbetes nossos. Palavras que, fora do nosso contexto, não fariam sentido. Essa relação entre os detestáveis artrópodes de 8 patas com seres das trevas foi iniciativa minha. Eu não gosto de aranhas. Não sei se posso ser classificado como aracnofóbico, mas eu realmente não tenho muita coragem pra lidar com esses bichos. 

Ano passado, passamos por uma situação parecida, com uma maldita aranha na nossa frente quando estávamos prestes a entrar em casa. Dona Moça, sabendo do meu medo, se prontificou a matar o bicho. Nisso, eu disse "Não, deixa que eu vou. Preciso perder o medo disso!". Peguei a primeira coisa que vi na minha frente que poderia ser usada como arma e ataquei enquanto bradava:
- MORRE DEMÔNIO!
A partir daí que surgiu a automática relação entre 'aranha' e 'demônio' na nossa casa. E claro que houve uma certa (e recorrente) zoação por parte da Dona Moça. Acharia meio estranho se não houvesse, pra dizer bem da verdade. Mas vamos ao porquê de estar contando esse vexame de sair correndo de aracnídeos.

Creio que você percebeu ao ler que, em ambos os casos, a Dona Moça se colocou a frente. Ela conhece meu medo, sabe que ele existe e, sempre que pode, me protege do que me amedronta. Minha suposta aracnofobia foi só uma desculpa pra chegar a esse tema. Há muitos outros medos com que tenho que conviver, e creio que não seja diferente para ninguém. Há o medo relacionado ao futuro, relacionado ao trabalho, aos estudos, à criação de futuros filhos (calma gente, estou só conjecturando). Há medos que são desconhecidos até que uma situação mostre sua existência.  Mas, pra todos esses medos, eu sei que posso contar com a proteção da mulher que eu amo.

Posso estar parecendo um tremendo bunda mole falando isso, mas creio que é só, no máximo, excesso de honestidade. Ter alguém com quem se pode compartilhar os maiores temores e se sentir protegido e não exposto ao fazer isso é algo que traz um alívio e uma segurança que não aconteceriam se eu os escondesse.

Me parece que, no ímpeto de não se perder a individualidade, muita gente perde a oportunidade que existe no conversar sobre o que é difícil. De levantar assuntos delicados, que dificultam algum âmbito da vida. Vendo a dinâmica que a Dona Moça e eu estamos desenvolvendo no nosso lar, percebi que essa é uma oportunidade a não ser perdida. É ótimo papear sobre o que está bom. Contar como foi o dia e compartilhar esperanças e expectativas é realmente maravilhoso. Só não podemos ignorar o potencial que existe no difícil.

Da mesma forma que a Dona Moça me ajuda nos meus medos, tento ajudar nos delas. Aliás, um tanto de vezes, o medo é compartilhado e aí que precisamos mais do apoio um do outro. Agindo dessa forma, percebo que as fundações do nosso relacionamento são fortalecidas cada vez mais. Ao compartilhar tudo, nos entendemos melhor. Ao expor o medo, o superamos juntos. Nisso tudo, nos tornamos mais próximos. E, caminhando sempre juntos, eu percebo que eu a amo ainda mais.




1 Amplexo!